Vestir
Quanto mais eu vou, eu fico








"Quanto mais eu vou, eu fico" é um acontecimento, um disco que quanto mais se escuta mais camadas descobrirmos, das músicas e de nós mesmas. E assim tinha que ser uma roupa para vesti-lo. Como se nessas andanças das canções o trovador viajante tivesse atravessado caminhos de sol, chuva, mato, pedra, lodo, lama, brilho, algodão, linha, canotilho, pássaro, dentes, serras e salivas.
Para fazer um bordado como esse existe muita doação de si. Saliva para colocar a linha no buraco da agulha, furos nos dedos, dor nas mãos e assim o tecido vai nos acompanhando junto com as trocas de peles e dos dias. É sobre viver o tempo em toda sua duração possível, um ponto após o outro. Não é possível acelerar esse processo e é isso que eu mais amo no bordado. Trabalhar com tempo e com muito amor, mesmo que o capitalismo odeie isso.
Quanto mais eu vou, eu fico me abriu caminhos que até então desconhecia, como na infância que tudo é absurdo ver essa roupa brilhando num palco toca o emocionado que ainda trago insistentemente dentro de mim. Ver Marcello com essa roupa é pura alegria, é como a armadura de um cavaleiro ou a capa de um super herói, é como levar junto dessa pessoa que amo um pedacinho de mim pra viver junto.


Já me atirei, não sou de festim


"La Era está pariendo un corazón" cantava Silvio Rodríguez em 1978 - que parece tão hoje, já 2023 parece algo tão do futuro. Aqui no Brasil temos um presidente, após anos de devastação uma sensação de poder voltar a respirar - literalmente, de voltar a povoar os sonhos, de saber que os povos que vem sendo massacrados nesses tempos existem e são valiosos.
"Já me atirei, não sou de festim" canta Marcello inventando seu futuro nacional que é tão nosso, ele atenta pra esse estranho ímpeto de seguir, essa coragem de se guiar pelo desejo e pelo amor. E aqui estamos sendo corpo, coração, esculpindo a sangue e suor o desenho dos dias.
Esse foi o primeiro figurino que fiz na vida, de muitos que ainda estão por vir na gestação do tempo, hoje entendo que precisava ser um coração para dizer de onde vem toda a minha força criativa.